sábado, 24 de dezembro de 2011

Sem banho!

Vruumm, vruumm, biii, bi, bi. Lá vai o carrinho, sendo conduzido habilmente por entre os tijolos e latas. Tudo faz parte do cenário. É como se a vida material fosse reduzida. O garoto comanda tudo, nada lhe escapa ao olhar atento. Seu irmãozinho o segue, pelas tortuosas ruas, feitas de riscos de tijolo e pedras. Sobe pelas paredes, desvia do cachorro deitado. Para num semáforo imaginário e diz que todos devem esperar o sinal abrir. O irmão espera, respeitosamente o comando para avançar.
A 50 metros dali um outro garoto está em pé, no meio da sala de sua casa
, olhar fixo em algum ponto a sua frente. Começa a movimentar seu corpo, braços abertos. Parece estar voando. Observando os seus movimentos poderíamos imaginar um bailarino. Quem sabe um lutador de artes marciais, executando seus movimentos precisos e calculados. De repente o som se torna insurdecedor, explosões e bombas parecem cair de todos os lados. Os movimentos do garoto se tornam mais frenéticos. A sua frente está uma televisão de 50 polegadas e abaixo dela um XBOX 360 e um Kinect, simulador de realidade. A batalha é feroz, os inimigos vão aparecendo e sendo dizimados, até que o silêncio volta a reinar.

_ Pronto! O sinal abriu, vamos! - E lá se vão os dois. O irmão menor tenta passar o carrinho do mais velho. 
_ Assim não, não pode. - A bronca foi imediata.
_ Mas eu quero dirigir na frente. - Pediu quase choramingando.
_ Tá bom, mas deve ultrapassar pela esquerda, nunca pela direita.
_ Mas a direita está livre. - Justificou o mais novo.
_ Não importa, você buzina e eu saio da frente. Então você passa. Esse é o certo! - Corrigiu o mais velho.
_ Tá bom.

E os dois seguiram adiante. O mais novo "buzinou". O mais velho posicionou o corpo para que o irmão pudesse passar. Ao passar o mais novo buzinou novamente e o mais velho respondeu buzindo também.
Então um forte estrondo interrompeu a brincadeira. Correram para o portão, viram que havia acontecido um curto circuito em um dos transformadores da rua. Se olharam e quase que ao mesmo tempo, disseram.

_ Sem banho hoje! - Riram e correram de volta ao quintal para continuar a brincadeira.

O silêncio da batalha só não era completo porque havia uma música de suspense. O seu avatar vai caminhando por entre os escombros. O momento era decisivo, levou horas para chegar perto de vencer aquele inimigo. Olhava atentamente para a tela. Ouviu um forte silvo, sabia que estaria sendo atacado.

_ Venham seus molóides. Vou acabar com todos.

Novamente o som se tornou ensurdecedor. Seres bizarros apareciam de todos os lados e sem nenhuma dó ele os abatia. Sua agilidade era incrível. A realidade imposta pelo jogo o transportava para outro mundo. Finalmente chegou em frente a um imenso portal. Disparou suas armas e o portão caiu. Ele correu e aumentou o som ainda mais.

_ Agora você não me escapa. 

Quando a fumaça começou a dissipar dois olhos vermelhos brilharam. Ele inclinou o corpo para frente e seu avatar correu para dentro daquele ambiente. Iniciou-se a batalha, explosões, raios de luz. Finalmente se viu frente a frente com o inimigo. Era agora!

Então um forte estrondo interrompeu a brincadeira, tudo ficou escuro. Correu para a janela, viu que havia acontecido um curto circuito em um dos transformadores da rua. Olhou para a TV, apagada, jogou o controle no chão. 

Estava furioso. Foi para seu quarto, vasculhou a caixa de brinquedos e encontrou um carrinho de plástico.

_ Sem banho hoje! - Riu e começou a brincar.


Abraços, J.C.Hesse - Autor da obra Tallek
Autor e Auxiliar Administrativo do Clube dos Novos Autores
Meu Twitter: JCHesse

Um comentário:

Marli Carmen disse...

Feliz Natal, amigo!!!! Beijão!!!